Passou despercebido o segundo Felica. Autores renomados estiveram na cidade falando pras cadeiras do Humberto Mauro. Nem o pessoal de Letras da Fic apareceu...
Faltou divulgação, dizem alguns. Faltaram atrativos materiais, pensou-se; “quem sabe uma bicicleta sorteada no fim”, sugeriu o poeta Nicolas Behr; “veio quem gosta e comemoremos nós”, concluiu Marcelino Freire.
De fato, pros poucos que apareceram, há o que comemorar, pois as conversas foram muito boas, e esclarecedoras. E não é sempre que vamos poder trocar ideias com Afonso Romano de Santana, ou que alguém vai poder, como eu mesmo fiz, discutir ferrenhamente com um erudito convicto, e depois cumprimentá-lo, sabendo que temos ideias divergentes e que isso, com o devido respeito, é necessário pra crescermos todos.
Agora que acabou, é hora de ruminar tudo o que foi dito e ver o que fica de aprendizado. E pra essa reflexão, sugiro nos guiar pela pergunta que intitula esse texto. Mas será que a literatura serve pra alguma coisa?
Bom, pelo que foi dito por um cronista de um jornal mineiro, serviu pra ele comprar uma fazenda. Pena que ele continue tão movido a dinheiro que mantenha na tal fazenda a atividade de pecuária de corte, condenável dos pontos de vista religioso e ambiental. Ele próprio admitiu não ter coragem de ver seus boizinhos sendo apreendidos para o abate; mas segue covardemente ganhando dinheiro, inclusive com a literatura.
Pela postura e pelas palavras do Alexei Bueno, talvez um dia vá servir pra ele conquistar uma garota recitando pra ela o Primeiro Canto d'Os Lusíadas. Ele está certo em pensar que as garotas normalmente não sabem que aquele livro só serviu pra massagear o ego dos portugueses pra eles nos explorarem ainda mais, mas pensar que haja alguma por aí que vá se deixar seduzir parnasianamente, é o mesmo que pensar que um cara - que só ele sabe quem - criou o parnasianismo, e que tratando dessas coisas na escola, nossas crianças vão passar a ser cultas.
Falando em literatura na escola, muito se discutiu a respeito. Literatura na escola não adiantará nada, nunca, se não se pensar a questão, como se fez no Felica. Pena que os futuros educadores da área de letras não tenham aparecido. Estariam eles preocupados também só em como ganhar dinheiro com um diplominha de Letras na mão? Ou faltou e falta interesse em formar pensadores da literatura e da educação, pro curso não ficar reduzido a interesses pessoais que normalmente resultam na frustração nítida nos professores e nas aulas de literatura?
Essas e muitas outras outras reflexões foram muito bem propiciadas no Felica; mérito do Geraldo e de toda a produção, e dos seus escritores convidados e dos mediadores, como os escritores-pensadores-locais , Leonardo e Felipe Fritz.
Pra quem gosta de pensar nossa cultura, atualmente motivo mais de lamentações do que de comemorações, ouvir e dialogar com Ronaldo Werneck, Joaquim Branco e Zeca Junqueira, por exemplo, faz a gente pensar que literatura pode servir pra muita coisa boa sim. Por exemplo, pra gente se orgulhar dos poetas palestinos, que partiram pra melhorar a vida da sua gente, com todas as forças.
Que venham outras Felicas, e que passem menos despercebidas. Pra gente continuar se perguntando pra que serve a literatura, e continuar descobrindo que ela pode melhorar a vida da nossa gente.
Luciano de Andrade, educador e livreiro
Texto fino, mano velho! Cada vez mais educador. Dá gosto ter a oportunidade de estarmos na briga! Abraço do Fritiz
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